"Pretendíamos pelo menos dar uma resposta, um susto", diz homem que esfaqueou Bolsonaro

Policial
Juiz de Fora (MG) | 12/09/2018 | 08:48

Informações: Diário Catarinense
Foto: Reprodução/Vídeo

Com frases pausadas e vocabulário correto durante audiência de custódia, Adelio Bispo de Oliveira, que confessou ter esfaqueado Jair Bolsonaro no dia 6 de setembro, em Juiz de Fora (MG), disse que "pretendia dar pelo menos uma resposta, um susto" ao candidato do PSL à Presidência.

Referindo-se ao ataque como "incidente" e "imprevisto" e sem citar nenhuma vez o nome de Bolsonaro, o agressor deu a seguinte explicação: "eu, como milhões de pessoas, pelos discursos da pessoa referida (Bolsonaro), me sinto ameaçado literalmente, como tantos milhões de pessoas. Aquela certeza de que cedo ou tarde ele vai cumprir aquilo que está prometendo tão veementemente pelo país todo, contra pessoas como eu exatamente".

O vídeo em que Adelio Bispo fala pela primeira vez foi gravado durante audiência de custódia ocorrida no dia 7 de setembro em Juiz de Fora, na presença da juíza Patricia Alencar Teixeira de Carvalho, e está circulando nas redes sociais.

Adelio admite ter cometido o atentado por motivos políticos e religiosos. Revela também, quando perguntado pelos advogados de defesa, que não tem tomado medicações psiquiátricas. Ele afirmou que, desde o momento em que foi preso, sofreu "humilhações verbais" e agressões de agentes prisionais supostamente simpatizantes de Bolsonaro em Juiz de Fora.

Adelio foi indiciado, com base na Lei de Segurança Nacional pela Polícia Federal, e transferido para o presídio federal de Campo Grande, onde encontra-se isolado, por questões de segurança, dos demais detentos. O inquérito apura se há mais envolvidos no ataque a Bolsonaro — hipótese negada pelo agressor.

Dores e remédios

No início da audiência, Bispo alegou dificuldades para falar graças a dores nos pulmões e nas costelas, por conta das agressões sofridas desde o momento de sua prisão, ao ser imobilizado por policiais e agredido por populares.

O agressor foi preso no Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp), onde, segundo ele, dividiu com outros seis presos uma cela projetada para duas pessoas. Ele disse não se sentir ameaçado pelos colegas de cela, mas sim pelos agentes.

Conforme o agressor, um dos funcionários da casa prisional o xingava e agredia: "me chamou de bicha, me chamou de viado, disse que ia me colocar numa cela para ser estuprado por um negão. Disse que eu tinha tentado matar os sonhos dele, o presidente dele. Coisas dessa natureza aí. E empurrão para parede. Eu estava descalço, (e o agente) pisando com o coturno nos dedos do pé. E muita humilhação verbal".

Perguntado sobre medicações controladas receitadas por psiquiatras, ele disse já ter tomado remédios bastante fortes, mas que, como não tem ido ao médico, não tem usado nenhum nos últimos dias. "Já tomei diferentes tipos de remédios controlados. Tem um, que não me recordo o nome, que é extremamente forte e derruba em menos de 15 minutos. Também fiz uso do Pamelor 50 (antidepressivo), que é mais brando. Fiz uso de um terceiro que não me lembro mais, mas não estou fazendo uso regular neste momento. Faz um bom tempo que não visito o médico."

Ao ser questionado, pela própria defesa, se havia motivação política ou religiosa, ele respondeu: "as duas coisas, eu diria. Eu, como milhões de pessoas, pelo discurso da pessoa referida, me sinto ameaçado. Aquela certeza de que, cedo ou tarde, vai cumprir o que está prometendo tão veementemente contra pessoas como eu.

Adelio foi transferido para presídio federal de Campo Grande (MS) no sábado (8).