Realizado o primeiro casamento entre homossexuais em São Lourenço do Oeste

Geral
São Lourenço do Oeste | 28/05/2014 | 08:44

Autor: Angela Maria Curioletti
Foto: Arquivo pessoal

No início de 2014, um casal procurava o Registro Civil de São Lourenço do Oeste manifestando o interesse no casamento. Com a parte burocrática em andamento, no dia 23 de abril expediu-se o primeiro edital de proclamas. Em 20 de maio homologou-se o pedido, manifestando concordância com a vontade dos nubentes. O casamento foi realizado no dia 23 de maio, às 10h. Ele ficará marcado para sempre como a data do primeiro casamento entre pessoas do mesmo sexo em São Lourenço do Oeste.

Vilamir Teodoro da Silva, 22 anos, e Washington de Oliveira, 34 anos, se conheceram em São Paulo, capital, a cerca de três anos. O início da relação se deu muito rápido e a sintonia entre os dois foi instantânea. Natural de São Lourenço do Oeste, Vilamir conta que sempre teve o sonho de ir para São Paulo e encontrar uma pessoa para dividir a vida. Quando chegou lá, em 2012, achou um emprego e dividia aluguel com outros rapazes. Como eram muitas pessoas no mesmo espaço, “pouca privacidade”, diz ele, quis encontrar outro lugar para morar. Foi quando encontrou Washington, conhecido como Tuy.

“Começamos a sair juntos, mas falei pra ele que não estava mais gostando de São Paulo, queria voltar para casa”, conta Vilamir, explicando que chegou à cidade antes que o companheiro para preparar a família.

Oficialização

“Eu vi que o relacionamento ia dar certo e aceitei a proposta dele de morar em São Lourenço do Oeste. Mesmo não gostando do clima frio, aceitei (ri)”, relata Tuy, reforçando que foi muito bem aceito pela mãe e a família de Vilamir.

Há dois anos em São Lourenço do Oeste, a ideia do casamento surgiu devido à necessidade que ambos viram de se sentir seguros futuramente. Tuy quer deixar o companheiro amparado caso alguma coisa aconteça a ele, e vice-versa. “Mas na relação não mudará nada. O diálogo como casal continuará, o respeito, a cumplicidade. Não é o papel que muda isso”, garante.

Marcos Antônio Chaves é oficial do Registro Civil, de Títulos e Documentos e de Pessoa Jurídica de São Lourenço do Oeste. Questionado sobre sua reação ao receber o casal, ressalta que não pode ter juízos de valores, apenas cumprir o que é determinado. “Mas já tinha sido questionado outras vezes e sempre afirmei que sou favorável ao casamento de pessoas do mesmo sexo. O casamento gera direitos a ambos e formaliza um ato, uma vontade, gera garantias”.

Chaves espera que eles também se sintam respeitados, pois particularmente não os conhecia, mas teve uma boa impressão. “São jovens e estão buscando seu espaço nessa selva de pedra”.

Pés no chão

O oficial do Cartório frisa que achou a decisão do casal corajosa. Durante a manhã do casamento, na última sexta-feira, diz ter conversado com eles e percebeu que ambos estão bem seguros, cientes do caminho a percorrer, das dificuldades que ainda vão enfrentar.

E é com esta certeza que o casal segue sua vida de casado. Vilamir ainda reforça o apoio da mãe, que tem os ajudado desde que decidiram dividir o mesmo teto. O casamento, mantido em sigilo até a véspera do dia, foi para conter o alarde da sociedade. “A certidão de casamento não muda o preconceito na sociedade. Só seremos aceitos na comunidade se pararmos de nos esconder, se assumirmos o que de fato somos e devemos viver o nosso amor de cara limpa, sem medo, até porque não há nada de errado nisso. É natural e todos merecem ser felizes”.

Saiba Mais

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou ainda em 2013, por 14 votos a 1, uma resolução obrigando os cartórios de todo o país a celebrar o casamento civil e converter a união estável entre pessoas do mesmo sexo em casamento. Os cartórios não podem, desde então, rejeitar o pedido. Segundo o presidente do CNJ e autor da proposta, Joaquim Barbosa, que também é presidente do STF, a resolução visa dar efetividade à decisão tomada em maio de 2011 pelo Supremo, que liberou a união estável entre pessoas do mesmo sexo.