Seminário discute crise do leite, mas futuro ainda é incerto

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São Lourenço do Oeste | 20/02/2015 | 22:33

Autor e fotos: Marcelo Coan

Cerca de 400 pessoas de São Lourenço do Oeste e região, todas ligadas a produção de leite, participaram nesta sexta-feira (20) de um seminário sobre a cadeia produtiva do leite. O evento, realizado no Teatro Professor Arno Ignácio Etges, no Centro de Eventos, foi organizado pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de São Lourenço do Oeste e Novo Horizonte, Secretaria de Agricultura e Aquicultura de São Lourenço do Oeste e Unochapecó.

Na pauta, a atual conjuntura, alguns pontos de reivindicações e uma possível mobilização para o mês de março. Um dos primeiros a falar no seminário, o assessor técnico da Associação dos Pequenos Agricultores do Oeste Catarinense (Apaco) e professor universitário, Gelso Marchioro, trouxe alguns dados sobre a cadeia produtiva do leite e os impactos gerados com a baixa no valor pago aos produtores.

Segundo Marchioro, a crise não é resultado apenas das fraudes e adulterações. A isso ele soma, por exemplo, a queda das commodities. Entretanto, ele concorda que a queda de 30% deverá ser ajustada na cadeia produtiva através de políticas públicas e adequações por parte dos atores. “Associada a queda do preço, houve uma queda no consumo. Para que haja um aumento no preço do leite, há que haver um aumento no consumo”. Sem saber se a crise é passageira, Marchioro afirma que a cadeia produtiva vai passar por ajustes. Ele cita, por exemplo, a concentração, eficiência e a integração.

Para minimizar os impactos, a sugestão é a de que o poder público trabalhe com campanhas para a manutenção e aumento do consumo.

Coordenador da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul (Fetraf-Sul) em Santa Catarina, Alexandre Bergamin disse que o futuro da cadeia produtiva ainda é duvidoso, entretanto, ele defende que a produção continue nas mãos dos produtores, independente da quantidade produzida. “O futuro, da forma que está, mostra que a primeira seleção vai excluir os produtores que produzem menos que 100 litros diários”. Ele não descarta a implantação de um sistema de integração, igual ao que existe na avicultura e suinocultura.

Ao lembrar que hoje não há uma política bem definida para a cadeia produtiva do leite, Bergamin disse que está em construção uma pauta de reivindicação de âmbito municipal, estadual e nacional.

Impacto

De acordo com Marchioro, São Lourenço do Oeste produz em torno de 40 milhões de litros de leite ao ano. Com a redução de aproximadamente R$ 0,30 ao litro, cerca de R$ 12 milhões deixarão de circular no município. “Só estou falando do setor primário”, disse ela ao lembrar que ainda é preciso considerar os setores secundário e terciário.

Produtores

Primeiros a sentirem os impactos da crise, os produtores frearam os investimentos. Como o custo da produção não acompanhou a baixa, a palavra de ordem é corte de gastos. Produtor do município de Novo Horizonte, Rafael Prati disse que apesar de a produção de leite não ser a única atividade na propriedade, a baixa impactou no faturamento. Segundo ele, a primeira ação foi o corte nos investimentos.

Com 32 animais em lactação, Valmir Tezza disse que no auge chegou a ganhar R$ 1,08 ao litro. Com o preço em alta, a ideia era manter o melhoramento genético e investir em tecnologia. Hoje, segundo Tezza, o melhoramento genético será mantido, contudo, alguns investimentos deverão ser repensados. Além disso, ele adianta que alguns ajustes para padronizar o plantel deverão ser feitos. Animais com produção baixa serão descartados.