Chapecoense suspeito de planejar ato terrorista é monitorado com tornozeleira

Policial
Chapecó | 03/06/2016 | 11:12

Informações e foto: Folha de São Paulo

Resultado de uma investigação sigilosa da Polícia Federal que apontou risco de um ato terrorista no Brasil, um morador de Chapecó passará a andar de tornozeleira eletrônica e está proibido de comparecer a aeroportos ou escolas.

Ele também não pode frequentar cursos ou atividades que envolvam explosivos, armas de fogo ou artes marciais, assim como não tem autorização para deixar a cidade sem prévia comunicação à PF.

A adoção de medidas especiais para restringir os passos e monitorar um empresário, dono de um restaurante, foi autorizada pela juíza substituta da 2ª Vara Federal da cidade, Heloisa Menegotto Pozenato. Nas redes sociais, o homem diz que é do Líbano e vive no Brasil há muitos anos.

A decisão, tomada com base em três artigos do Código de Processo Penal, é "pouco comum", mas trata-se de uma "situação diferente, que exige" medidas que levam em conta o "tamanho inimaginável do risco". O uso da tornozeleira deverá se estender "no mínimo" até o encerramento dos Jogos Olímpicos no Rio, em agosto.

A decisão, tomada no último dia 24 e informada na quarta (1º) à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), é o ponto culminante de uma investigação de quase três anos da Polícia Federal.

O órgão levantou indícios de que o homem "vem se preparando com determinação para o desenvolvimento" de um "integrante da guerra santa muçulmana". "Levando-se em consideração o somatório de indícios, são indicações demais para serem ignoradas", concordou a juíza Pozenato.

Preparo

Os indícios apontados pela PF são: anotações de que o homem vinha tendo, de madrugada, aulas de "estudo/prática de tiro (sniper)" e a apreensão na casa do empresário de um "manual" com "cálculos de distância de alvo, ajustes e correções para disparos".

O monitorado também é autor de um vídeo na internet, no qual "enaltece" o ataque terrorista à revista de humor "Charlie Hebdo", em Paris; e, segundo os investigadores, mentiu à polícia.

Em depoimento, ele afirmou que, durante viagem que fizera no início de 2013, "ficara baseado em Istambul", na Turquia. Porém, ao analisar a série de telefonemas dados por ele no período, a polícia concluiu que ele passou pelo menos 87 dias na Síria, em uma cidade que, segundo a PF, "estava sob domínio da organização Estado Islâmico".

Procurado pela redação da Folha na tarde desta quinta-feira (2), o homem não havia dado retorno a um pedido de entrevista até a conclusão desta edição. A reportagem conversou por telefone com uma pessoa que se identificou como sua irmã e deixou recado.

"Na verdade ele ainda está tratando sobre essa questão, então não é uma coisa muito aberta, é uma coisa bem particular, não é algo que seja para divulgação. Eu vou trocar uma ideia com ele", disse a irmã.

Manipulado

A mãe do homem contou à PF que, após "a viagem à Turquia", o comportamento do filho "modificou-se [...] aparentando estar sendo influenciado e manipulado por outras pessoas".

O investigado negou a autoria do vídeo, mas um representante da comunidade islâmica do sul do país confirmou à PF que o empresário havia produzido e publicado a gravação, que ele "já tinha apresentado tendência radical pretérita" e que "depois do vídeo ele foi desligado imediatamente do Ilaei" (Instituto Latino Americano de Estudos Islâmicos), de Maringá (PR).